Profissionais querem ser respeitados pelo trabalho, não pelo poder ou uso de armas de fogo
Com oito anos de atuação nas ruas da Capital, a GMF (Guarda Municipal de Florianópolis) quer abandonar o papel de coadjuvante no atendimento à comunidade. Os agentes pretendem conquistar o respeito da população pelo trabalho, não pelo poder de aplicar multas aos motoristas imprudentes ou uso de armas. A busca é por uma contribuição maior para garantir a segurança pública. Atividades de fiscalização ao comércio ilegal de mercadorias e abordagens a usuários de drogas começam a dar visibilidade à atuação da corporação.
Até o fim do mês passado, poucas pessoas sabiam que a Guarda poderia efetuar prisões. Após uma ocorrência ao lado da base, os servidores prenderam três arrombadores. Os criminosos haviam furtado o carro de um casal de turistas argentinos. O comandante da instituição, Ivan Couto, explicou que fazer detenções não é o foco da GMF. “Só fizemos isso em casos de flagrante ou por ordem judicial”, ressaltou. O centro de controle da entidade não tem à disposição um número sobre a quantidade de prisões. Porém, diariamente alguém é conduzido para a delegacia de polícia.
Entre as atribuições da corporação estão tarefas de fiscalizar o trânsito, orientar a entrada de estudantes em 20 escolas municipais, zelar pelo patrimônio público e, desde o fim do ano passado, coibir vendedores ambulantes ilegais. Durante a temporada, já foram registradas 20.000 apreensões, somando 200 mil itens.
Couto justificou a nova atribuição. Para ele, a comercialização irregular de produtos está ligada diretamente ao crescimento das favelas na Capital. “As pessoas vêm para trabalhar no verão. Gostam da cidade e acabam ficando. O problema é que, sem qualificação, não conseguem se emprego e são empurradas para locais como as favelas Papaquara e do Siri, no Norte da Ilha. São regiões marcadas pela criminalidade”, avaliou.
Para a produção da reportagem, a equipe do Notícias do Dia acompanhou o trabalho de uma guarnição pela região central de Florianópolis. Em uma hora de trabalho, houve aplicação de multas, morador de rua se negando a dar explicações e abordagem a usuários de drogas. A impressão é que o serviço de rua é tranquilo Faltou ação.
Fábio Luiz Mendes, 36 anos, explicou que a rotina é normal. Tudo depende do dia. “Às vezes, nada acontece. De repente, chove, e são dois ou três acidentes de trânsito ao mesmo tempo”, disse. Na corporação, há equipes responsáveis pelo trânsito, fiscalização de ambulantes e para acompanhar os usuários de drogas.
A atuação da GMF é restrita ao Centro da Capital e ao Continente. O comandante Ivan Couto estima que sejam necessários 900 guardas para atender toda a cidade. Atualmente, são 147 servidores Pelo menos para este ano, não há previsão de novas contratações.
O secretário municipal de Segurança e Defesa do Cidadão, Hamilton Pacheco da Rosa, reconhece a necessidade de reforçar a instituição. Segundo ele, no ano passado, a falta de recursos impediu a possibilidade de realizar um concurso. “A Guarda vem se destacando e merece novos agentes, mas surgiram outras prioridades”, justificou.
Dos 100 primeiros agentes chamados, em 2003, para formar a Guarda Municipal, 24 abandonaram o cargo devido à má remuneração e à falta de estrutura da corporação. A segunda turma, convocada em 2008, encontrou melhores condições ao se beneficiar da lei 321. Os novatos entraram com salário inicial valorizado, aproximadamente R$ 2,2 mil. Em contrapartida, a jornada de trabalhou passou de 30 para 40 horas semanais. E ficou definido que, em caso de novo concurso, os candidatos teriam que ter curso superior.
A alteração também permitiu o uso de armas de fogo. Nesses quatro anos, os agentes fizeram só um disparo, durante uma perseguição. Foi em dezembro de 2010. Um pedestre foi atingido no pé.
Vágner Manoel Canela, 36 anos, atua desde o início da Guarda. Ele destacou que a população ainda vê os agentes como aplicadores de multa, mas a percepção está mudando. “As pessoas veem que estamos nos estruturando. Somos um ponto de apoio à comunidade”, afirmou. A estruturação deve continuar neste ano. A Guarda foi beneficiada por um projeto da Secretaria Nacional de Segurança Pública, que destinou R$ 1 milhão para a aquisição de veículos, armas não letais e capacitação dos servidores.
Coronel afirma que atuação é importante:
O coronel Araújo Gomes, da Polícia Militar, trabalha com mais que o dobro do efetivo da Guarda Municipal, no comando do 4º Batalhão da PM. São 350 policiais militares à disposição, além de reforço eventual em dias de eventos e de operações especiais. Para ele, a atuação dos guardas no ordenamento do trânsito é importante. Isso, no entanto, não significa que possa ser aumentado o número de policiais militares para fazer o trabalho de prevenção a crimes nas ruas.
Gomes argumentou que a ideia de montar a Guarda, em 2003, na gestão da então prefeita Angela Amin (PP), foi vendida como solução para a falta de efetivo da PM. “É só procurar nos jornais da época. Na prática, isso nunca ocorreu. Não há como desvincular o policiamento ostensivo do trabalho no trânsito”, afirmou.
Confira os números:
Confira os números:
147 agentes;
14 viaturas;
17 motos;
6 bicicletas;
R$ 2,2 mil é o salário médio de um guarda municipal, já com gratificações;
A jornada de trabalho é de 8 horas;
13.617 foi o número de ocorrências acionadas pelo centro de operação, no telefone 153, no ano passado;
60 mil multas foram aplicadas em 2011.
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